Este artigo objetiva compreender os conceitos, nomenclaturas e aplicações da Engenharia de Custos, suas variações e quais profissionais são envolvidos. Nas referências estão os links para mais contribuições sobre o tema.
O problema é: custo, orçamento, preço e valor – como conceituar e como interagem?
Compreender a formação do preço de um produto ou o orçamento de um projeto (ou parte dele) é uma atividade ligada ao Engenheiro e aos profissionais experientes nos setores envolvidos. É preciso conhecer do Negócio, suas particularidades, do mercado consumidor e do mercado fornecedor de insumos. Outra atribuição importante desse trabalho é a realizar a composição iterativa e integrada dos elementos que formarão o orçamento e ou o preço.
Para deixar mais claro seguem conceitos de custo, orçamento e preço. Ao primeiro olhar parecem a mesma coisa, mas quando se pensa em valor (outro conceito importante nisso tudo) é que se compreende o inter-relacionamento de todos os elementos.
CUSTO: É quanto vale um insumo vindo de um fornecedor de serviços ou mercadorias. Podem ser classificados em custos diretos (mão de obra direta aplicada, material diretamente aplicado, serviços aplicados, etc) e custos indiretos (administração central, custo financeiro, riscos, seguros, impostos, lucro, etc).
Imagem 1 – Custo Direto e Indireto, fonte PMKB (1)
ORÇAMENTO: É a composição (somatório) de todos os elementos de custo aplicando de forma integrada e iterativa.
PREÇO: É quanto vale aquele produto ou serviço, já levando em consideração custos diretos, indiretos e os componentes do orçamento, mais uma percepção de mercado, do ponto de vista do owner (chamaremos de Capex) e do ponto de vista do fornecedor (chamaremos simplesmente de Proposta).
VALOR: É a percepção de uso e aplicação pelo resultado da aplicação daquele bem ou serviço.
Imagem 2 – Relação entre orçamento, preço e custo, como o Mercado afeta o Valor, fonte: o autor.
O custo é a menor unidade desta composição. O preço é o somatório dos custos e pode ser do tamanho do orçamento ou não, é uma decisão de estratégia de quem vende (ou às vezes de alguns “loucos” que compram querendo que o fornecedor se ajuste ao seu capex). O valor , ah o valor! Esse está sujeito às implicações do Mercado, o quão o mercado valoriza ou não um bem ou serviço. Veja o caso do café, a saca é vendida pelo produtor por R$43,00 (kg) e você compra um copo de 190 ml no Starbucks pagando R$2.300,00 o kg.
Imagem 3 – variação de quanta custa o kg do café, fonte: o autor
O que é Engenharia de Custos?
A engenharia de custos é o conjunto de atividades que colaboram para levantar o custo de um projeto ou de um bem (mercadoria, produto). Em outras palavras, estamos falando da identificação de todos os custos envolvidos em um projeto, desde os custos diretos (materiais, mão de obra, equipamentos) até os custos indiretos (administração, segurança, impostos). Essa etapa é essencial para a construção de um orçamento sólido.
Algumas atividades previstas para a engenharia de custos:
- Estudar os projetos de engenharia;
- Levantar lista de materiais;
- Levantar lista de insumos;
- Levantar lista de serviços;
- Levantar lista de encargos;
- Identificar os custos locais (canteiro, equipe local, etc);
- Identificar os custos indiretos (tais como e não se resumindo a: impostos, lucro, taxas, seguros, custo financeiro, risco, incerteza, administração central, etc.
CURIOSIDADE: Como se chama o Profissional que atua na Engenharia de Custos? Aqui no Brasil a gente chama de Engenheiro de Orçamentos, Orçamentista, mas lá fora é o Profissional de Estimativa, o Estimator .
Imagem 4 – Exemplo de oportunidades de emprego como Estimator, fonte: Indeed
O que é Engenharia de Orçamento?
Vai além do levantamento de custos. Envolve análise técnica e comercial, participação em visitas técnicas, interação com o owner para esclarecer dúvidas e, finalmente, a preparação e negociação da proposta até a assinatura do contrato.
O que é Engenharia de Preço?
Aqui entramos no território da estratégia de mercado. Se falamos de bens de capital (máquinas, plantas industriais), a lógica segue a da engenharia de orçamento, mas do ponto de vista do contratante (owner). Já em bens de consumo duráveis e não duráveis, entram fatores como formação do preço de venda, margem, mark-up e comportamento do mercado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No mundo da gestão de projetos e negócios, os conceitos de orçamento, preço e valor muitas vezes se confundem. Mas entender suas diferenças é essencial para uma tomada de decisão estratégica e para garantir competitividade e sustentabilidade no mercado. Vamos esclarecer! 👇
✅ Orçamento 💰 = Cálculo técnico do custo + margens e riscos
O orçamento é a base financeira de um projeto. Ele abarca o preço, pois considera todos os custos envolvidos na execução – diretos (materiais, mão de obra, equipamentos) e indiretos (impostos, despesas administrativas, riscos e margem de lucro). Um bom orçamento garante que o projeto seja viável e financeiramente sustentável, sendo a ferramenta usada para precificar um serviço ou produto.
✅ Preço 💲 = Relação entre custo e estratégia de mercado
O preço é derivado do orçamento, mas vai além dos custos! Ele é uma função do custo, considerando também fatores estratégicos como posicionamento no mercado, concorrência, elasticidade da demanda e percepção do consumidor. Para bens de capital (máquinas, plantas industriais), o preço é fortemente atrelado aos custos, enquanto para bens de consumo, variáveis como marca, inovação e diferenciação têm grande impacto.
✅ Valor ⭐ = Quanto o mercado está disposto a pagar
O valor é a percepção do cliente sobre o benefício e a utilidade do produto ou serviço. É o que realmente define o sucesso de uma precificação, pois não adianta calcular um preço baseado no orçamento se o mercado não enxerga o produto como algo valioso. Em alguns casos, o valor percebido pode ser muito maior que o custo real, possibilitando margens elevadas; em outros, o preço deve ser ajustado para garantir competitividade.
O orçamento determina o mínimo necessário para viabilizar um projeto. O preço é a estratégia de comercialização, considerando a estrutura de custos e o cenário competitivo. Já o valor é a percepção do mercado, determinando se o produto ou serviço será aceito e gerará lucro ou prejuízo.
Na prática, o gerente de projetos não costuma participar da formação dos custos ou do orçamento, recebendo apenas um valor aprovado sem grande detalhamento. A partir disso, precisa garantir que o projeto seja entregue no prazo, escopo, qualidade e dentro do preço vendido. Mas, para ser mais estratégico e aumentar as chances de sucesso, o gestor deveria se envolver desde a fase inicial, entendendo a lógica de precificação e os fatores que impactam financeiramente o projeto (o fluxo de caixa).
No final do dia, o que realmente importa é alinhar custo, preço e valor de forma inteligente, garantindo sustentabilidade financeira e vantagem competitiva.
Referências:
- PMKB (1) Estimativas de custos, riscos e índices de um projeto de Engenharia: https://pmkb.com.br/estimativas-de-custos-riscos-e-indices-de-um-projeto-de-engenharia/