Era o ano de 1913, uma expedição na Antártica fracassada, 28 vidas humanas em jogo. Pessoas de duas classes sociais, os diplomados e os sem diplomas. Físicos, geógrafos, biólogos, médicos, todos da Royal Society (o mais alto patamar das ciências na Inglaterra). Do outro lado eram marinheiros, oficiais, homens duros para resistir ao mar.
Chegaram no continente gélido, estacionaram o navio numa banquisa de gelo. O inverno chegou e destruiu o navio. Não vou me estender na história de Ernest Shackleton e sua valente tripulação do Endurance. O final da história é que ninguém morreu ou ficou prejudicado fisicamente ou psicologicamente.
Caminhoneiros parados, fornecimento comprometido para todos. Falta de combustível, alimento some nas prateleiras, indústrias não têm insumos para produzir. O protesto organizado por sindicatos de caminhoneiros e de transportadoras desde a última segunda (21) mostrou a força da categoria. Também mostrou a fraqueza da nossa logística.
Tínhamos no início dos anos de 1900 uma das maiores redes ferroviárias do mundo. A partir dos anos 40 começamos a encostar o trem para dar espaço ao caminhão. Traçamos rodovias (asfaltadas ou não) ligando capitais e praticamente todo o país. Nada contra caminhões ou rodovias, mas os trens para a função de distribuição intercontinental são mais efetivos.
Indiferente da legalidade das manifestações, mas com foco nas consequências, posso avaliar que tiramos nota zero. Pelo oportunismo aumentamos o preço dos combustíveis, o valor dos alimentos, não fomos assistir aula e faltamos ao trabalho. Mostramos o que temos de pior na nossa formação de brasileiros.
Em alguns postos por Minas e capitais do Nordeste o valor da gasolina chegou a R$9,00 reais, quando era no máximo R$4,50, a metade. O preço da batata no centro de abastecimento saltou de R$ 80,00 o saco de 60 kg para até R$ 500,00.
Precisamos sim protestar, precisamos sim de um país com uma política progressista e igualitária. Não podemos aceitar calados. Mas também não podemos entre nós aproveitarmos o momento e agirmos de maneira oportunista. Isso é grande falta de caráter.
Recentemente buscaram os restos mortais de Shackleton da Antártica para a Inglaterra. O que ele simbolizou para o povo inglês, como exemplo de dedicação e resistência, precisa ser aprendido por nós. Principalmente o respeito mútuo.