Bondespachense participa de ajuda humanitária e conta sua experiência – parte 1

Conheci o médico bondespachense Sérgio Cabral de uma forma inusitada: estava faculdade de engenharia e fui para Betim pedir carona, de repente me pára o Sérgio num Fiesta cinza, indo para BD com um buqê de flores no banco traseiro, segundo ele um agrado para a namorada. Reencontrei-me com nosso amigo ao saber de suas atividades em instituição humanitária internacional. O trabalho dele me impressionou, por isso vou dividir a entrevista em 2 partes. Acompanhe.

Ítalo –  Onde você estudou Medicina ? Como foi sua decisão de morar fora do país ?

Sérgio – Estudei medicina em Cuba. O governo cubano oferece vagas de cursos técnicos e universitários para vários países, principalmente países pobres. Sempre quis ir para algum outro país, mas diferente de algumas pessoas eu pensava em Bolívia, Cuba, Argentina ou outro país da América Latina. Sempre tive muita vontade de conhecer o Brasil e nossa América. Ir estudar em Cuba uniu uma gama de coisas: a oportunidade de ir a outro país, conhecer a realidade de Cuba que sempre foi um país polêmico, e poder estudar um curso universitário em uma universidade pública de qualidade. Desde muito novo já me sentia sem fronteiras, só não tinha meios para voar mais longe e Cuba me deu esta oportunidade que agora se amplia com meu trabalho no Médicos Sem Fronteiras (MSF – site www.msf.org.br).

Ítalo – Como você conheceu e foi atuar no MSF ?

Sérgio – Em Cuba temos uma formação humanitária, solidária. Os profissionais cubanos estão em vários países do mundo fazendo ajuda humanitária. Eles chamam de “Internacionalistas” aqueles que vão para outros países fazer trabalho voluntário. E aquele que faz este tipo de trabalho se sente honrado em ser internacionalista. Quando voltei de Cuba, já com princípios da solidariedade fortalecidos, estava decidido a ir para algum país fazer trabalho voluntário. Mas decidi me especializar antes e fiz pediatria, depois cardiologia. Estava morando em Belo Horizonte e decidi voltar para Bom Despacho, para dar minha parcela de contribuição para nossa cidade. Voltei e abri meu consultório, comecei a trabalhar na Santa Casa, Saúde da Família, Policlínica e APAE. Acabei me envolvendo demasiado com todos estes compromissos e fui pospondo minha saída. Em 2003 mandei meu curriculum para o MSF e aceitaram, mas teria que ir à Europa ou Estados Unidos por minha conta e não foi possível por questões financeiras. Em 2007 meu sobrinho estava indo para a Argentina e me disse que lá havia um escritório do MSF, então partimos juntos numa longa e encantadora viagem cruzando o Paraguai e grande parte da Argentina até chegar à Buenos Aires, onde soubemos que os brasileiros tinham que ir ao Rio de Janeiro, onde já havia um escritório do MSF há dois anos.Voltamos ao Brasil entrando pelo sul findando uma viagem de 10.000 Km. Mandei meu curriculum para o Rio e tive resposta muito rápida.Marcaram entrevista e algumas dinâmicas, duraram dois dias. Pediram uma semana para nos responder. Três dias depois me ligaram: “bem-vindo aos Médicos Sem Fronteiras”. Desde este emocionante dia tudo começou a mudar para mim.Teria que esperar até fevereiro de 2008 para fazer o curso preparatório, mas em poucos dias me ligaram perguntando se aceitaria ir para Darfur no Sudão, para trabalhar na região da guerra, numa clínica móvel. Aceitei e os preparativos começaram. Ao chegar na Suíça me perguntaram se eu aceitava trocar para uma missão de emergência no sul do Sudão, onde crianças estavam morrendo com complicações de um surto de Sarampo. Aceitei e lá fui eu.

Ítalo – Como foram seus primeiros trabalhos humanitários?

Sério – Minha primeira missão foi no Sul do Sudão, uma missão de emergência. Trabalhei em uma área remota, com populações semi-nômades próximo à fronteira com a Etiópia. Um surto de sarampo veio deste país e estava complicando com morte de várias crianças. Devido à urgência da missão tínhamos todo o material médico que precisávamos, mas nossa condição de vida era básica, pois não havia tempo para construir. Dormíamos em barracas, não tínhamos tempo para voltar ao acampamento para almoçar, e eu comia biscoito de menino desnutrido para matar a fome na hora do almoço. A janta era apenas arroz grudento, macarrão pastoso e galo cozido e para finalizar, uma latinha de refrigerante que vinha a quase 50 graus, devido ao clima desértico local. A energia elétrica do gerador era exclusiva para as vacinas. Tínhamos que lavar nossas próprias roupas, bombear água à mão e carregar no balde, entre outras situações. No final da tarde, quando voltávamos para o acampamento já haviam algumas pessoas esperando por ajuda médica. Nossa missão era específica para o Sarampo, mas ao saber da presença de médicos as pessoas iam aparecendo. Muitas vezes passei a noite tratando doentes. Cheguei a internar uma criança com malária cerebral dentro de minha barraca e passei a noite acocorado tratando-a. Tive que passar muitas noites atendendo doentes. E às cinco da madrugada havia que recomeçar o dia, entrar no jeep e partir rumo às aldeias onde estávamos fazendo nosso trabalho com o Sarampo.A pesar do grande trabalho, das restrições de sono, das condições agrestes do local e de nosso rústico acampamento, posso dizer que para mim foi fascinante aquela missão.Ao findar esta missão voltei para Nairobi, Quênia, onde passei uma semana esperando MSF decidir aonde seria mais importante eu ir.

Semana que vem: continuação da entrevista com o Sérgio, não deixe de ler.

Rápidas e Rasteiras:

Diário de Bordo: no site do MSF você pode acompanhar o diário do médico bondespachense Sérgio Cabral: basta acessar: http://www.msf.org.br/noticia/diario_sergioII1.htm

Administração de Empresas na UNIPAC: a coordenação do curso informou que entre os dias 29 de setembro e 01 de outubro, acontecerá mais uma edição da Semana da Administração. Alunos e o empresariado da cidade e região só têm a ganhar. Participe !

Ainda a Estrada de Ferro Paracatu: segundo informações de alguns moradores do povoado da Garça, confirmado pelo Marcão do Correio, a ponte de ferro da antiga EFP que fica entre Bom Despacho e Dores, não foi desmontada porque o seu atual dono, um empresário de Divinópolis, percebeu grande dificuldade em efetuar seu desmanche, ainda bem !

Visitantes de diversos países – Portugal, Argentina, Austrália e Estados Unidos – estiveram no Museu e deixaram palavras de incentivo ao trabalho que se desenvolve em Bom Despacho no campo da Museologia. Mesmo que você já conheça o Museu,  volte para visitá-lo, porque sempre vai encontrar uma surpresa interessante. Manifeste sua opinião aos nossos diretores e representantes, especialmente Julio Benigno Fernández, em Bom Despacho (37-3522-2553), estilojoias@zap10.com.br; Nilce Coutinho Guerra, em Brasília (61-3244-2747), nilce.coutinho@rbsturbo.com.br ou registre seu depoimento no Livro de Visitas do Museu da Cidade.

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