E agora, pra onde vamos?
E está começando 2011. No próximo ano, Bom Despacho completa seu primeiro centenário. Muita história pra contar, incluindo sucessos e fracassos. O importante é fazer uma espécie de balanço e pensar, seriamente, na situação em que estamos hoje. Será que poderia ser melhor? Ou assim mesmo está bom? As respostas, claro, variam. E é assim mesmo que deve ser: múltiplos pontos de vista, discussões pró e contra isto e aquilo, entre estas e aquelas pessoas. Dentro, sempre, do respeito e da vontade de avançar, de fazer de nossa cidade um lugar melhor pra se viver.
Muito se compara Bom Despacho a Divinópolis, já que ambas viraram cidade no mesmo dia 1º de junho de 1912. Não sei se é o melhor caminho, já que as oportunidades foram diferentes cá e lá. E, o mais importante, a mentalidade de quem decide o futuro também não é a mesma nas duas cidades. Mas, e isso é fato, a principal cidade do Centro-Oeste mineiro é hoje um lugar muito mais próspero que nossa cidade. Muito mais dinheiro circulando, mais alternativas de emprego, enfim, mais movimento. Movimento que também traz consigo, nunca se pode esquecer, problemas sérios como maior criminalidade e mais poluição.
Vira e mexe, as pessoas comentam sobre o futuro. Não só o seu futuro, mas também o da cidade. Lamentam oportunidades de ouro perdidas, avanços que poderiam ter mudado pra melhor o rumo da nossa história. E também elogiam atitudes tomadas no momento e na forma adequados, ajudando a melhorar Bom Despacho. Mas parece, especialmente agora, que estamos numa espécie de momento-chave (ou situação crucial ou sinuca de bico, como muitos também chamam). Que situação é essa, que envolve alguns ótimos avanços – como a universidade pública e de qualidade a distância chegando – e retrocessos – como momentos pitorescos na política?
Todo mundo sabe que nosso país vive um momento especial de desenvolvimento. Afora a questão político-partidária, não se pode negar que estamos bem melhor agora do que há 20 anos. Isso é fruto de seguidos governos que tiveram a seriedade de manter a economia no rumo correto e tomaram medidas necessárias nos momentos precisos. Enfim, não é mérito do partido A ou B, mas da competência do governo – que, claro, poderia ter feito mais, mas fez muito. Então, nesse momento economicamente propício, como está nossa cidade? Aproveitando as oportunidades ou vendo-as passar, mais uma vez perdendo o trem da história?
Não pretendo, aqui, afirmar nada muito contundente ou dar respostas prontas. Ao contrário, a ideia é, de alguma maneira, ajudar a incentivar o debate sobre nossa cidade. Contribuir para que sejam discutidas questões como o absurdo de centenas de trabalhadores terem que viajar diariamente mais de 40 km até Nova Serrana para exercerem uma profissão. Por que não conseguem isso aqui? Há pouco, a tradicionalíssima fábrica de tecidos anunciou paralisação temporária de suas atividades. Esse tempo vai até quando? E as muitas famílias que dependem do trabalho nessa empresa para sobreviver: como estão se virando?
Por que a impressão (para alguns) ou a convicção (para outros) de que Bom Despacho não consegue evoluir na mesma velocidade que a maior parte do país? Em 99% das conversas sobre o assunto, a culpa recai sobre a administração pública, questionada por muitos, mas legitimamente eleita em 2008. Portanto, queiramos ou não, é o governo que a maior parte dos eleitores preferiu. Certamente, cabe aos agentes públicos grande parcela de contribuição sobre o destino da cidade. Mas de que tamanho é essa parcela de responsabilidade? De 100% não é. Então, parte da atual situação atual pode ser atribuída aos moradores, tradicionalmente acomodados e avessos a assuntos como política.
O que quero defender aqui é que nossa cidade depende, fundamentalmente, de seus moradores para ser o tal lugar melhor pra se viver. Ainda são muito tímidos os momentos em que a cidadania é plenamente exercida. Precisamos de mais pessoas participando e discutindo as questões importantes de Bom Despacho. Tenho absoluta convicção de que existem várias pessoas que estão com muita vontade de contribuir. O que lhes falta é a oportunidade certa no momento adequado. Enquanto isso, a pergunta persiste: pra onde vamos, ao fazermos 100 anos?
* Clenio Araujo é bondespachense, morador da cidade, jornalista e colunista do jornal impresso Fique Sabendo. Atualmente, faz mestrado em Comunicação Social na Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), em São Bernardo do Campo-SP. Contatos:clenioaraujo@yahoo.com / clenioaraujo.zip.net