Sou um vento que sopra o mundo, às vezes levanto apenas poeira, outras vezes levanto vidas – parte 2 da entrevista com o Médico Sérgio Cabral

Semana passada havia apresentado a primeira parte da minha conversa com o Sérgio. Cada linha que escrevi foi me dando uma inveja muito grande, mas uma inveja boa, de ter a coragem do meu amigo para fazer o que ele tem feito. Para aqueles que não acompanharam, o Dr. Sérgio Cabral está atualmente no Camboja atuando na ajuda humanitária do grupo internacional chamado Médicos Sem Fronteiras (MSF). A seguir a parte final do nosso bate-papo:

Ítalo – Como é seu trabalho no MSF ? O que você tem aprendido ?

Sérgio – O trabalho que faço é uma espécie de consultoria. Minha atividade atual é mais burocrática que nas missões anteriores. Vou aos hospitais onde estou trabalhando, levanto dados, observo como os médicos fazem seu trabalho, como funciona o serviço, analiso os resultados a curto e longo prazo e tenho que propor solução para as lacunas encontradas. Quando têm casos difíceis me pedem para encontrar alguma solução. Aqui me chamam de “expert” em HIV. O que não é verdade. Mas isto me obriga a gastar dias e noites estudando mais, analisando e encontrando a melhor solução para as dificuldades que existem e para as que vão aparecendo.Tenho aprendido muito aqui, tanto na minha vida profissional como na pessoal.Profissionalmente, como disse, estou trabalhando num lugar que exige muito de mim e isto me obriga a investir muito tempo em aprimoramento pessoal para prestar um serviço à altura da expectativa do local e do MSF. Pessoalmente a convivência com uma cultura totalmente diversa à nossa me faz crescer muito. Em meu tempo livre aproveito para me aproximar das pessoas e da cultura. Assim como tive a oportunidade de aprender sobre o islamismo no Sudão, estou aprendendo muito sobre a filosofia da religião budista. Tudo é muito interessante.

Ítalo – O que você gostaria de ter sabido há 10 anos atrás que poderia fazer diferença na sua vida ?

Sérgio – Não me arrependo das coisas que fiz ou deixei de fazer, tenho um critério pessoal de que todas escolhas que faço são as melhores. Não deixo espaço para lamentações. Não gosto de ficar analisando “e se eu tivesse…”,. Mas se eu soubesse que é tão prazeroso e compensador o trabalho humanitário provavelmente o teria iniciado mais cedo. Realmente me encontrei como pessoa e como profissional.

Ítalo – O Jornal de Negócios tem uma penetração muito grande como veículo de comunicação em Bom Despacho, qual seria sua mensagem para seus conterrâneos ?

Sérgio – Quando me perguntaram porque minha decisão de integrar-me a uma organização humanitária, estar longe de casa, da família, dos amigos, colocar-me, muitas vezes em risco na tentativa de ajudar a outros, tive que olhar para dentro de mim para saber porque decidi seguir o caminho de extremos, que me levam do sorriso ao pranto. Acho que começou  justamente ao olhar para mim mesmo. Após uma introversão, de  um olhar profundo ao meu eu. Fui descobrindo que mentia para mim mesmo, que me enganava achando que era uma pessoa boa, achava que ajudava aos demais, mas me recostava no conforto de uma vida tranqüila. Percebi então que poderia fazer muito mais.A decisão não é tão fácil nem romântica. Perder fronteiras é algo muito profundo.Acho difícil escrever sobre mim mesmo, minha história é difícil, acho que está relacionada com o curso da entrega, acho que é a história de um ninguém. É uma questão de deixar de fazer “o que todo mundo faz” e fazer “o que qualquer um faria”.Depois da decisão só posso procurar fôlego em pequenos gestos. Concentrar no que acredito, esquecer as distâncias, não trilharei certos caminhos, não pensarei no que tive. Gostaria que meus amigos estivessem de braços dados comigo, mas sou um simplório solitário, e percebo que estou rodeado de outros simplórios que fazem o mesmo que faço.Percebi que não poderia esperar aos demais, tudo dependia e bastava comigo, com abrir meu peito e romper as barreiras. Quebrar os muros que me cercavam, abrir as janelas. Decidi que eu faria minha parte. Sou um vento que sopra o mundo, às vezes levanto apenas poeira, outras vezes levanto vidas. Agora me lembrei… tenho que partir uma vez mais, hoje um furacão destruiu algumas cidades no caribe, um terremoto passou pela China, a enchente encurralou habitantes da índia, na Etiópia a fome causa morte e devastação. Acho que meu novo acampamento tem cama com colchão, mas depois de cochilar uns minutos já vou para o trabalho, quero receber o sorriso daquela criança que necessita minha presença, e da sua também.

 

Conheça o Médico Sem Fronteiras: http://www.msf.org.br , com certeza terá algo em que você pode ajudar.

Rápidas e Rasteiras:

Eleições 2008 – reta final: faltam 2 semanas para o eleitorado ir às urnas e decidir quem ocupará o cargo de prefeito e também os cargos de vereador. Tem candidato por aí apelando para novenas, mas além disso, o que vale mesmo é mostrar PROPOSTAS. Cadê elas ? Particularmente tenho visto muito pouco.

Escolas Técnicas iniciam inscrições para vestibulares: aqueles jovens com interesse em desenvolver carreira técnica, precisam ficar atentos aos calendários das instituições de ensino do Governo Federal que a partir de outubro já iniciam suas provas de admissão. Algumas delas: CEFET-MG (www.cefetmg.br), COLTEC da UFMG, CEFET Bambuí, CEFET Formiga, CEFET Divinópolis, Escola Técnica da UFJF, COLUNI de Viçosa(www.ufv.br), dentre muitos outros. Vale lembrar que são cursos gratuitos e alto grau de reconhecimento pelo mercado.

Você sabe o que é o IDEB ? O Governo Federal tem feito anúncios na TV sobre esse índice. Ele informa o nível de desenvolvimento da educação em determinado município, estado e no Brasil como um todo. Em países de alto desenvolvimento esse índice é no mínimo 6,0, no Brasil 4,2 e em Bom Despacho 4,4. Por curiosidade, Martinho Campos tem IDEB 5,1, bem próximo a índices internacionais.

Concurso de Presépios – esse evento de final-de-ano já incorporou as festividades do Natal de nossa cidade. No próximo dia 26 de setembro, sexta-feira, às 15 hs. a comunidade está convidada a participar de reunião no Hotel Glória para decidir como será o concurso esse ano. Maiores informações com o empresário Júlio Benigno (tel. 3522-2553).

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